07/08/2025
Leandro Daher começou a se preparar para exportar para os Estados Unidos desde que fundou sua empresa de bebidas com destilados à base de ingredientes amazônicos, a AMZ Tropical, em 2021. A primeira exportação ocorreu no ano passado, mas não teve sucesso devido a problemas com um importador. Em seguida, a empresa, sediada em Belém (PA), abriu sua própria importadora em Miami com o apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) — um processo que levou mais de um ano, por conta das licenças exigidas para bebidas alcoólicas.
Com um lote de produtos com rótulos em inglês pronto para embarque, os planos de Daher foram interrompidos pelo anúncio da nova tarifa de 50% sobre parte das exportações brasileiras, feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no início de julho. As bebidas alcoólicas não entraram na lista de exceções divulgada posteriormente — que inclui suco de laranja, aeronaves civis, petróleo, veículos, fertilizantes e produtos energéticos . As tarifas globais anunciadas por Trump entraram em vigor às 00h01 em Washington nesta quinta-feira, elevando as taxas de importação americanas ao nível mais alto em um século.
As 660 garrafas da AMZ Tropical que seriam destinadas ao mercado norte-americano seguem armazenadas, enquanto o empresário aguarda os desdobramentos das negociações entre os dois países. “Estou na esperança de que o governo americano e o brasileiro se entendam", diz o empreendedor. "Com as embalagens são em inglês, não posso vender esses produtos no Brasil.”
A empresa já vende em Portugal e está em fase final de negociação com Japão e Suíça. A expectativa era que o mercado norte-americano representasse 10% do faturamento da marca em 2025.
O empreendedor não tem um levantamento preciso dos custos para se adequar às exigências do mercado dos EUA, mas estima ter investido cerca de US$ 2 mil (cerca de R$ 11 mil) com uma despachante para auxiliar nos trâmites e na adaptação de arte e rótulo. Além disso, gastou aproximadamente R$ 30 mil em mais de 3 mil garrafas personalizadas.
“Agora estamos analisando a possibilidade de vender para outros países de língua inglesa, como a Inglaterra. Ainda assim, seria necessário um novo trabalho de adaptação para atender às normas de cada país”, explica.
Daher não é o único empreendedor afetado pelo aumento das tarifas das exportações para os Estados Unidos que está em compasso de espera. Dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Secex/MDIC) indicam que a tarifa incidirá sobre 35,9% das exportações brasileiras aos EUA, o que representou US$ 14,5 bilhões em 2024.
Apesar de representarem 40% das companhias brasileiras que exportaram no ano passado, as micro e pequenas empresas foram responsáveis por apenas 0,8% do valor total exportado — o equivalente a US$ 2,6 bilhões, segundo a publicação Exportação e Importação por Porte Fiscal das Empresas, da Secex/MDIC. Ao todo, 11.432 MPEs exportaram em 2024. A América do Norte apareceu como o segundo principal destino dessas vendas, com 24,6% das operações, atrás apenas da América do Sul.
Embora as PMEs respondam por menos de 1% do total exportado, elas têm papel fundamental na exportação indireta. “As pequenas empresas estão presentes em praticamente todas as cadeias produtivas de grandes empresas que vendem para outros países", afirma Joseph Couri, presidente do Sindicato da Micro e Pequena Indústria (Simpi).
Fonte: Pequenas Empresas & Grandes Negócios